segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Daquilo que ninguém fala

Daquilo que ninguém fala, dos pormenores que vêm atrás do sentimento da perda, o arrastar de sentimentos que nos atordoam sem pedirem licença.
Queremos homenagear os nossos entes queridos com um espaço em sua memória. Temos as campas. E como as queremos? De que cor? Branca, preta, cinza...Alta, baixa? Quadrada ou arredondada? Ali, aqui? E a pedra? Esta ou a outra? E as letras? São gravadas, são salienttes, douradas, prateadas, esfumaçadas? Ainda faltam as jarras, assim, assado? Ah! e os dizeres? E como é que dizemos tudo o que sentimos por aquela pessoa num pequeno espaço de pedra fria?
Afinal só desejávamos que alguém decidisse tudo isso e apenas nos deixassem chegar aquele sítio frio, onde procuramos um pouco de conforto, enquanto fazemos o único acto de carinho que agora podemos ter: depositar nas flores que oferecemos o enorme peso da saudade que nos domina!
Há dias melhores, há dias piores...continuo a morrer de saudades tuas , meu Paizinho querido!


quarta-feira, 7 de julho de 2010

O último dia que falámos

Faz hoje um ano que falámos pela última vez, meu querido paizinho.
Estavas tão aborrecido, tão confuso. Deviam-te ter dito que estavas a morrer e tu não estavas nada a fazer conta.
Estavas irritadiço, meu querido, e não querias comer nada. Tirei-te o tabuleiro da frente. Estavas tão chateado! Conversavas meio a toa, desconcentrado. Pudera!
Não te disse nada de geito nesse dia. Eu que andei sempre contigo, a tentar dar-te o melhor de mim.
Meu querido paizinho, o meu amor por ti é eterno.
Queria tanto que estivesses aqui! Oh! meu querido Papá!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Cancro

Em Agosto de 2005, ansiava por férias, andava desesperada! O primeiro fim-de-semana foi um inferno de chamas, na segunda semana...O resultado de uma mamografia da minha mãe, que tinha encontrado um caroço numa mama. O último exame tinha sido em Setembro 2004 e estava tudo bem. Agora estava tudo mal!54 anos - Cancro da mama. Meu Deus, chorei tanto pela minha mãezinha! Tão frágil que ela era, tão boa pessoa, não merecia nada daquilo. E lá começámos as corridas para o IPO. Foi a operação, foi o rapar do cabelo, foi a peruca, foi a radioterapia e foi a quimioterapia. E quem estava sempre presente e a toda a hora: o meu pai. Também fiz uma promessa: ir a Fátima a pé pela minha mãe. Tudo correu bem. Foi recuperando e ganhou outro espírito de viver a vida.

Em Agosto de 2008, ansiava por férias, andava desesperada! O primeiro fim-de-semana decidi cumprir a minha promessa. Fui a Fátima a pé. Os meus filhos ficaram com os meus pais. No regresso, ao almoço, acho o meu pai a falar de uma forma esquisita, meio a gaguejar. Homem de raríssimas visitas ao médico mas, consigo convencê-lo a levá-lo ao médico durante a semana. Homem resistente, com muita força. E lá começámos as idas e estadias nos hospitais. Primeiro era um AVC (diagnóstico errado 1 mês) e afinal, em Setembro...cancro do pulmão já metastisado no cérebro - 64 anos. Internamentos, radioterapia, radiocirurgia, quimio, quimio...A minha mãe tornou-se uma verdadeira mulher de armas! O meu Super Homem... sofreu tanto tanto! Em Fevereiro faleceu o meu primo, com 46 anos após um transplante. Foi um choque! Sempre pensáramos que quando começassem a morrer fosse a geração dos pais e não a dos filhos. Nessa data o meu pai começou a ficar sem voz. Como costumo dizer, um homem de grandes gargalhadas, ficou sem voz.

O meu pai morreu dia 9 de Julho 2009. Não tinha voz, não tinha força para sequer se virar na cama para mudar de posição. Apercebeu-se de que ía morrer nos últimos dias. Morreu 10 minutos antes de eu chegar ao pé dele.

Ele tinha feito 65 anos. Eu tinha 37 anos, a minha irmã 33 e o meu irmão 25 anos.
O meu pai perdeu o pai aos 25 anos, que morreu com cancro do sangue aos 65 anos.

Uma morte ... uma vida

Paizinho, hoje a Carlita mandou-me fotos do bébé. Assim que vi a primeira foto rompi em lágrimas...
A última foto que temos tua foi tirada 5 dias antes de nos deixares. Decorei-a pois, durante vários meses olhei para ela a dar-te as boas noites.
Hoje, enquanto a foto ia abrindo eu só pensava "Não acredito". Estão os dois na mesma posição mas, tu tens a mão e os olhos abertos e ele tem a mão e os olhos fechados. Estava tão emocionada que liguei logo aos meus irmãos. A minha irmã ainda não tinha visto mas, o puto já e, estava tão admirado quanto eu pois, tinha pensado a mesma coisa e dito à namorada.
Fica bem! Amo-te muito e tenho muitas saudades tuas, querido Pai!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O dia do teu Não Aniversário

Hoje tudo o que poderia haver de rocha em mim está transformado em frágil papel.
Hoje é dia 17 de Maio, o dia em que farias 66 anos. É o teu primeiro não aniversário.
Hoje de manhã fui-te levar flores e só me apetecia deitar para cima da tua sepultura e queria tanto abraçar-te, sentir-te encostado a mim. Meu Paizinho querido! Amo-te tanto! Tenho tantas saudades tuas!
Tirei o dia.Fui buscar a Mamã, levei-a ao cemitério e passámos o dia juntas até ir buscar os meninos. Ela foi no combóio para casa.
É um dia de emoções. Não vou conseguir ligar ao tio para lhe dar os parabéns. É o primeiro aniversário em que não estão os dois e, apesar de lhe querer todo o bem deste mundo, hoje não consigo. Além disso, o nosso membro mais novo da famíllia decidiu presentear-nos hoje com o seu nascimento. Quando ela me disse que o bebé ia nascer em Maio eu fiquei logo com um pressentimento que iria nascer hoje. E foi mesmo. Será que tem alguma coisa a ver contigo Papá?! Dou comigo a pensar em coisas estranhas? É o intenso desejo de te ter de novo perto de alguma maneira. Pensar maluquices.Onde quer que estejas, AMO-TE MUITO PAIZINHO QUERIDO! Como é possível resistirmos à tua perda?

sábado, 13 de março de 2010

Dia do Pai...é inevitável

Meu Querido Pai,
este ano não te vou poder oferecer nada, nem um beijo sequer! Apenas poderei levar-te um ramo de flores à fria cama que agora te acolhe. Foi em lágrimas que te comprei a tua prenda o ano passado pois, já sabia que, aquela era a última prenda do Dia do Pai que te ofereceria.
Há dois anos, cheguei junto de ti e abracei-te com força dizendo:"Obrigado, por seres meu pai. Gosto muito de ti!" E tu, homem de poucas expressões de afectos, tentaste que o abraço fosse rápido e sorriste.
Como sinto a tua falta, meu paizinho querido!